terça-feira, 12 de março de 2013

* PESQUISAS IV - Conflito: CURDISTÃO *


 O Curdistão é uma região habitada por população de etnia curda, cuja área está localizada dentro dos territórios da Turquia, da Síria, da Armênia, do Azerbaijão, do Irã e do Iraque. É considerada a maior nação sem território do mundo. A população curda é reprimida sobretudo no Iraque e na Turquia.

É o maior grupo étnico sem Estado no mundo. São mais de 25 milhões de pessoas descendentes de indo-europeus. 
Aproximadamente 70% vivem na Turquia, também no norte do Iraque, Irã, Síria e em países da ex-URSS. 
Reivindicam um Estado próprio: o Curdistão. Território com 530 mil km². 
Em fevereiro de 1999 é preso no Quênia e conduzido a Turquia, o líder curdo Abdullah Ocelan. Desde 1984 é o principal líder do PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos). 

Os curdos são descendentes de indo-europeus e consti-tuem o maior grupo étnico sem Estado do mundo (mais de 25 milhões). Eles reivindicam um Estado próprio e vivem na Turquia (cerca de 14 milhões), no Iraque, no Irã, na Síria e em países da antiga URSS.




Curdistão


O termo Curdistão (lugar dos curdo, em curdo) diz respeito à região com maioria curda em parte da Turquia, do Irã, do Iraque, da Síria, do Azerbaijão e Armênia. O território tem uma área de 530 mil km2.

O que fez do Curdistão um tema chave na guerra civil síria é a perspectiva da formação de um estado curdo na região. Segundo alguns analistas do Médio Oriente, isto poderá representar um papel central no redesenho das actuais fronteiras do Médio Oriente. Independentemente das suas intenções, a Turquia abriu caminho ao surgimento desta situação. De facto, é em relação a estes desenvolvimentos que devemos considerar os seguintes acontecimentos:
O primeiro acontecimento foi a tomada das cidades curdas do norte da Síria pelas forças curdas, tal como acima detalhada. O segundo foi a deslocação de grandes companhias petrolíferas como as norte-americanas Exxon- Mobile e Chevron, a francesa Total e a russa Gazprom dos campos petrolíferos do sul do Iraque para os campos petrolíferos sob controlo do Governo Regional Curdo e a assinatura de novos contratos com este governo, independentemente do governo central iraquiano. O terceiro foi o reinício das grandes operações do PKK na cidade de Shamdinly, na província turca de Hakari que faz fronteira com o Irão e o Iraque, elevando a guerra entre o PKK e o governo turco a um novo nível de intensidade.
Em relação ao primeiro acontecimento: tinha havido anteriormente especulação na imprensa do Médio Oriente de que Bashar al-Assad poderia retirar-se para as montanhas de Nasiriyah e formar um pequeno estado cujo apoio central viria dos alawitas e outras etnias minoritárias, enquanto as forças do ELS apoiadas pela Turquia e pela NATO formariam um estado sunita. Mas não havia nenhuma menção a um «mini-estado curdo» na Síria até o PYD ter tomado o controlo das cidades curdas do norte da Síria. Em reacção a este acontecimento, Erdogan declarou que a Turquia não toleraria a presença de «forças terroristas» nas suas fronteiras e proclamou que isso era uma «linha vermelha». Depois deste incidente, os EUA anunciaram a sua forte oposição à desintegração da Síria – embora os EUA e a Turquia estejam a intervir na justa luta do povo sírio para a transformarem deliberadamente numa guerra civil religiosa e étnica.

Depois deste acontecimento, a Turquia advertiu o Governo Regional Curdo do Iraque (com o qual se tinha aliado) de que não aceitaria os actos já ocorridos e que não toleraria a formação de um estado curdo junto às suas fronteiras. A Turquia pediu a Barzani que ajudasse a eliminar as forças do PKK do Curdistão iraquiano e sírio. O ministro turco dos negócios estrangeiros Ahmet Davutoglu viajou de imediato a Erbil para falar com Barzani. Durante essa visita, Barzani, que normalmente aparece com um fato ocidental quando se reúne com visitantes estrangeiros, dessa vez apareceu em roupa tradicional curda.
De seguida, Davutoglu foi visitar o governador turcomano de Kirkuk (uma das maiores cidades do Curdistão iraquiano em que um terço da população é turcomana e não curda). A mensagem de Davutoglu foi de que a Turquia usaria a sua influência no Curdistão iraquiano para destabilizar o Governo Regional Curdo.
Em relação ao segundo acontecimento: grandes companhias petrolíferas como a Exxon-Mobil (a maior companhia petrolífera privada do mundo) assinaram seis contratos de exploração de petróleo com o Governo Regional Curdo do Iraque. A seguir a isso, em Julho passado, a segunda maior companhia petrolífera norte-americana, a Chevron, assumiu o controlo de 80 por cento de dois campos petrolíferos. Em Agosto, a companhia petrolífera francesa Total e a russa Neft (cujo proprietário é a Gazprom) também assinaram importantes contratos petrolíferos com o GRC. Um jornal turco escreveu que «quatro companhias petrolíferas que estão entre as dez maiores do mundo instalaram-se em Erbil» (Today's Zaman, 6 de Agosto de 2012).
O GRC tem estado há muito tempo a tentar abrir caminho à independência. A Turquia já tinha começado a comprar-lhe petróleo directamente, ultrapassando o governo central iraquiano. A companhia petrolífera Genel Enerji, baseada na Turquia e propriedade sobretudo de accionistas turcos, começou a trabalhar com o GRC na exploração e bombeamento do petróleo dos campos estabelecidos no Curdistão iraquiano. Segundo alguns observadores e analistas políticos, este foi o primeiro passo de um processo que visava converter a agora região autónoma curda do Iraque num país separado. 
Nos últimos anos, o governo da Turquia tem ultrapassado repetidamente o governo central do Iraque e estabelecido relações económicas, políticas, de segurança e militares directas com o GRC, de tal forma que a Turquia se tornou na maior potência económica estrangeira no Curdistão iraquiano. Ao mesmo tempo, a Turquia diminuiu a sua oposição à formação de qualquer estado curdo independente.
Mas, apesar da confiança do AKP na fiabilidade do GRC, os desenvolvimentos na Síria alteraram toda a equação. O controlo da região curda síria por forças curdas significaria uma outra região autónoma curda junto às fronteiras da Turquia. Numa só semana, a extensão das fronteiras da Turquia com zonas controladas pelos curdos passou de 400 para 1200 quilómetros. O potencial para a criação de um grande estado curdo com enormes receitas de petróleo mesma na fronteira da Turquia, juntamente com a possibilidade da formação de um estado do Grande Curdistão, mostra a enorme pressão sobre a estrutura política e económica do estado turco. Desde a fundação da República da Turquia por Kemal Ataturk que a opressão da nação curda tem sido um dos seus pilares.
Nos últimos dez anos, a burguesia turca tem tentado criar uma atmosfera que permita à burguesia curda partilhar parcialmente o poder político e permitiu algumas reformas na esfera da cultura e da língua de forma a atenuar a contradição entre as massas populares curdas e o governo. Mas esta contradição continua em acção e a burguesia curda não está satisfeita com o que lhe foi atribuído.
Em relação ao terceiro acontecimento: as forças do PKK encontraram uma oportunidade para intensificarem a sua luta armada contra o regime turco. Nos últimos anos, a política do PKK tem sido negociar com o governo do AKP. Durante algum tempo, apelou a um cessar-fogo e participou nas eleições municipais e parlamentares através dos seus partidos legais. Durante o mesmo período, a Turquia prendeu cerca de seis mil activistas do PKK que estavam a trabalhar com organizações legais como o Partido Paz e Justiça. Entre esses presos estavam presidentes de câmaras e membros do parlamento. Muitos dos presos são membros da organização municipal do PKK chamada União das Comunidades do Curdistão, a qual tem influência na gestão municipal, incluindo a recolha de imposto e os tribunais.
Embora o PKK tenha uma extensa base de massas e se chame Partido dos Trabalhadores do Curdistão, na realidade representa a burguesia curda porque exprime a perspectiva e o programa dessa classe. O líder deste partido, Ocalan, tem enfatizado repetidamente que o objectivo do PKK não é debilitar a Turquia mas sim restabelecer o poder do império otomano, acrescentando que a Turquia não conseguirá obter isso sem a unidade com os curdos (o que realmente significa a unidade das burguesias turca e curda). A posição do PKK sobre as questões do Médio Oriente é apoiar os projectos dos EUA. Considera-se parte de um eixo de amigos dos EUA. Claro que o regime de Erdogan se vê como a cabeça desse eixo. Depois de Ocalan ter sido encarcerado em 1999, ele exprimiu repetidamente estes pontos de vista nos artigos mensais que costumava escrever da prisão e que eram publicados na imprensa turca. É de salientar que ele deixou de escrever esses artigos nos últimos meses, que corre o rumor de que foi transferido para prisão domiciliária e que o governo está a negociar com ele.
Embora a economia turca tenha tido algum êxito segundo os padrões actuais, com o surgimento de uma classe média abastada, e o regime do AKP seja apresentado como um modelo para os outros países do Médio Oriente, a sua estrutura interna é vulnerável. O seu papel como gendarme regional dos imperialistas está a exercer uma pressão cada vez maior sobre essa estrutura e esse regime dito estável poderá vir a enfrentar crises de legitimidade ou mesmo revolucionárias. As mudanças na estrutura da classe da grande burguesia da Turquia ainda não se reflectiram inteiramente na esfera política. É verdade que a burguesia curda tem beneficiado economicamente e que tem o controlo de parte da economia interna, mas espera que obtendo um estado independente ou uma autonomia possa ser admitida no clube das grandes burguesias do Médio Oriente. Todas estas forças estão em luta política e militar entre si.
Agora, os fazedores de política e os analistas dos regimes reaccionários da região e das potências imperialistas estão a resmungar que Assad está a jogar a «carta curda». Mas a questão aqui para nós é esta: Que oportunidades nos apresenta a situação no Curdistão? Será que os comunistas e os intelectuais revolucionários curdos irão erguer uma voz internacionalista e revolucionária contra todo o jogo em que os curdos são uma «carta» a ser jogada? O predomínio da liderança burguesa na luta do povo curdo não tem obtido e não obterá nada melhor do que o que vimos com o GRC no Iraque.

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